No último sábado de Julho, após declarações dos Comandantes dos Bombeiros de Alvaiázere e de Ansião à SIC, denunciando falhas ocorridas no sistema de comunicações de emergência, SIRESP, durante os incêndios que nesse mês lavraram naqueles municípios, o Governo, pela voz do MAI e da Sr.ª Secretária de Estado da Protecção Civil (SEPC), apressou-se a desmentir ou a desvalorizar tais falhas.
Coloca-se, assim, a questão de saber, afinal, se houve falhas ou não e quem fala verdade, porque em democracia e numa sociedade evoluída a transparência e a veracidade são valores estruturantes da mesma e inalienáveis por parte de quem desempenha cargos públicos.
Em declarações à SIC, a Sr.ª SEPC admitiu a existência de falhas pontuais de operação dos rádios, mas declinou quaisquer falhas infra estruturais da rede SIRESP, o que, de forma simplista, levaria a direccionar o foco da responsabilidade por tais falhas para os seus operadores, no caso os comandantes dos Bombeiros no terreno, que não os terão manuseado de forma eficiente.
Porém, se os rádios funcionam noutras alturas e a comunicação se estabelece e é conseguida, então o problema não terá sido a ineficiente operabilidade dos rádios, mas sim “algo mais” que obstou e impediu o estabelecimento da comunicação.
E esse algo mais foi depois explicado e traduzido na mesma TV, quer pelo responsável da rede, quer por um perito de telecomunicações, como a incapacidade de resposta do SIRESP, dimensionado e capacitado para determinado volume de tráfego, a um elevado pico de solicitações do terreno decorrentes da enorme dimensão dos focos de incêndio que então lavravam nesse vasto teatro de operações.
Num tal contexto, aflitivo e carente de decisões rápidas e precisas, não é de admirar que uma falha, ainda que de alguns segundos, além de parecer uma eternidade para quem tem a responsabilidade de agir, não faça toda a diferença no que respeita à eficiência do combate e na protecção de pessoas e bens, como bem referiu o Comandante dos B.V. de Alvaiázere, Mário Bruno.
E não ficou bem à Srª SEPC escamotear a pontual incapacidade do SIRESP para corresponder de imediato às necessidades de comunicação sentidas no terreno, enfatizando que tais falhas, de poucos segundos, resultaram outrossim de falhas pontuais da operação dos rádios. Assim posta a questão, até parece que se tratou de uma questão de falta de formação ou de obsolescência dos rádios e que a rede não é para aqui chamada, quando a realidade vivida deixou bem evidenciada a insuficiente capacidade do SIRESP para responder a picos de solicitações como os ocorridos.
Ao contrário do que possa parecer, admitir os factos ao invés de os embrulhar numa retórica camuflada e dissimuladora é primordial para que o sistema possa vir a ser melhorado e a responder cabalmente a todas as chamadas.
Resta-nos esperar que, na sequência do concurso que corre trâmites para optimização da rede, de 4M€, a situação vivida e reportada nos incêndios de Julho sirva, ao menos, para dotar o SIRESP de maior capacidade de resposta aos fluxos de solicitações operacionais.
A bem do interesse geral, da transparência, e da eficaz protecção de pessoas e bens.