PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO
DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO
DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

Incêndios violentos deixam rasto de cinzas nas freguesias de Almoster e Pelmá

Incêndios devastam concelho de Alvaiázere que dizimaram quase toda a freguesia de Almoster e que lavraram mais de uma semana, consumindo cerca de 70% da área da freguesia da Pelmá

31 de Julho de 2022

Almoster

Entre os dias sete e quinze de julho, o concelho de Alvaiázere foi uma vez mais assolado por violentos incêndios que dizimaram tudo à sua passagem.

Têm sido frequentes este tipo de episódios ao logo dos anos, contudo, comparável a este com tamanha violência na freguesia de Almoster, talvez só o de há vinte e sete anos atrás.

Tanto um como noutro, provocaram um rasto de destruição com consequências terríveis na vida das pessoas, principalmente naqueles que viram as suas habitações destruídas.

Choca o relato desta humilde gente.

Gente que ficou apenas com a roupa que tinha vestida, tudo aquilo que conseguiram ao longo da sua vida, nalguns casos felizmente já longa, perderam em apenas alguns minutos, tamanha era a violência das chamas impulsionadas por ventos fortíssimos e por temperaturas nunca sentidas até hoje em Portugal, muito acima dos 40º.

Cenário que, dada a multiplicidade de incêndios, não só no concelho de Alvaiázere, mas também nos concelhos à volta, desde Ourém, Ansião, Pombal, apesar da valentia dos nossos “soldados da Paz” e da intervenção dos meios aéreos empenhados no combate às chamas, apenas lhes permitia proteger as habitações, mesmo assim, não foi possível evitar que algumas delas e espaços de arrumos fossem consumidos pelas chamas, apesar da solidariedade e entreajuda entre a população.

No caso da freguesia de Almoster, houve pessoas que ficaram sem a sua habitação principal, sem os arrumos, os seus animais, as sua alfaias agrícolas, viaturas.

Noutros, apenas ficou a casa, tudo à sua volta desapareceu. Gente que ficou sem qualquer tipo de fonte de rendimento, ou parte dele, olivais que arderam por completo, vinhas que se perderam, pinhal que irá demorar décadas para se reerguer. Gente que fica marcada para o resto da sua vida, tamanha a aflição por que passaram. Gente que irá seguramente precisar de apoio para se levantar de novo, para tentar ganhar ânimo no seu dia a dia, e aqui deixo um apelo às entidades competentes, não esqueçam esta gente!

Quem percorre agora as estradas dos lugares da freguesia de Almoster, depara-se com um cenário de terror, pessoas com a voz embargada, com um olhar vazio, braços caídos, com uma grande incerteza quanto ao seu futuro. No meio de tudo isto, uma certeza, a vida desta gente não voltará a ser mesma.

Ouvimos relatos de impotência, de revolta, de pessoas que ficaram entregues à sua sorte no combate às chamas na defesa das suas habitações, dos seus pertences, “não apareceu um único carro de bombeiros”, “quando apareceu o primeiro carro, foi dos sapadores - nem sequer era de bombeiros, já o fogo por aqui tinha passado há mais de duas horas”, tudo o que tinha perdi, apenas fiquei com a roupa que tinha no corpo, que já nem é esta, que ma deram”, “não sei o que vai ser do meu futuro”. Desabafos de particulares que, segundo referem, “se não fosse eu a regar tudo à volta de casa, até a casa tinha perdido”, “ainda hoje não consigo dormir, só de pensar naquilo que passei”, de pessoas que se disponibilizaram desde o primeiro dia a colaborar com a Proteção Civil na proteção às populações, apesar de algumas críticas também á sua atuação. Também ouvimos relatos de particulares gratos pela intervenção dos bombeiros, realçando, fazendo questão que fique bem claro, “dos bombeiros sapadores de Lisboa, se não fossem eles, tinha ardido tudo aqui à volta”, foram incansáveis, apesar de não conhecerem a zona”.

De acordo com o Presidente da Junta da Freguesia de Almoster, David Carmo, a “tragédia foi enorme, arderam, totalmente três habitações principais, parcialmente quinze, de segunda habitação arderam totalmente nove e parcialmente cinco a juntar a outras seis devolutas e desocupadas, enorme quantidade de alfaias agrícolas, destacando-se cinco tratores e oito moto enxadas. Uma grande quantidade de anexos, com tudo aquilo que as pessoas guardavam fruto do seu trabalho. Era impossível acudir a todas as solicitações, tamanha a velocidade com que as chamas devoravam tudo o que encontravam pela frente, apesar de julgar ter havido alguma falta de coordenação, as condições atmosféricas não permitiram que se conseguisse um combate diferente”.

Apesar da violência com que a freguesia foi dizimada, o seu presidente faz questão de “expressar um profundo agradecimento a toda a população, principalmente ao pessoal jovem, ajudou onde conseguiu, com os seus próprios meios, e, simultaneamente, um pedido de desculpas por não ter podido acudir a todas as solicitações”.

É certo que ainda passou muito pouco tempo depois deste trágico incêndio que afetou toda a freguesia, de norte a sul, do lugar do Murtal, aos lugares da Serra, ao sul da Freguesia - Mouta, Pechins, varrendo literalmente tudo o que encontrou pela frente, mas, é notório a perturbação emocional das pessoas ao recordarem a aflição por que passaram no combate às chamas, “nunca tinha visto nada assim, “pensei que íamos morrer todos ali”.

Pelmá

O fogo que chegou à freguesia da Pelmá, no dia oito de julho, sexta-feira, foi no seguimento do incêndio que teve início na união das freguesias de Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais, no dia sete, pelas 16h37.

O balanço acerca do impacto na freguesia é feito pelo presidente da junta, Edgar Duarte,” mais de 70% dos cerca de 30km2 de área deste território foram afetados pelo fogo. Podem contar-se nos dedos de uma mão, o número de aldeias, no norte da freguesia que escaparam a este terrível incêndio que lavrou durante mais de uma semana”. E nomeou os prejuízos, “ficaram destruídas duas casas de primeira habitação (lugares de Casal do Rei e Botelha), que deixaram duas idosas desalojadas. Destas duas casas, a do lugar de Botelha ficou irremediavelmente destruída, não sendo possível a sua reconstrução. Por agora a idosa que lá vivia ficará em casa dos filhos, já de que momento não dispõe dos fundos necessários para construir uma nova casa. Registamse também quatro casas de segunda habitação destruídas pelo fogo e um bombeiro ferido”.

Desde o momento em que o fogo chegou à freguesia que se iniciaram logo as evacuações das aldeias em perigo. Nas primeiras duas noites, após o início do incêndio, foi no salão paroquial da igreja da Pelmá que se deu apoio aos idosos retirados das suas casas. Este centro de apoio foi montado pela junta de freguesia e pelos serviços sociais da Câmara Municipal de Alvaiázere e contou com o apoio incansável de diversos voluntários que cuidaram e apoiaram estes idosos.

Durante os restantes dias em que os fogos não deram tréguas no concelho e com a chegada do fogo também à freguesia da Almoster os idosos evacuados das aldeias das duas freguesias, foram todos concentrados no pavilhão gimnodesportivo de Alvaiázere.

Numa semana em que quase todo o distrito de Leiria esteve debaixo de fogo, com meios terrestres e aéreos de combate aos incêndios insuficientes para tanta ocorrência, foi também essencial o trabalho das duas equipas da junta de freguesia da Pelmá e do auxílio da equipa da junta de freguesia de Pussos S. Pedro, liderada pelo seu presidente, Paulo Sá. Estas equipas com grande conhecimento das populações e do terreno foram essenciais no apoio direto às habitações, no apoio aos bombeiros voluntários e também na confirmação de falsos alertas que foram surgindo, evitando assim o despacho de meios desnecessários.

Edgar Duarte, destaca a dificuldade que tiveram em convencer os habitantes mais idosos, com mobilidades reduzidas e com as suas aldeias em perigo a deixarem as suas casas e deixa um agradecimento aos funcionários das juntas de freguesia, não só da Pelmá, mas também de Pussos S. Pedro e à da união das freguesias de Freixianda, Ribeira do Fárrio e Formigais, que durante estes dias não tiveram descanso, chegando mesmo um deles a sofrer uma lesão. Agradece também à associação GAFOA da Avanteira, onde esteve instalado o posto de comando e o centro de apoio logístico aos bombeiros.

Por último faz o alerta que para além das perdas de habitações já mencionadas é importante não esquecer que a maior parte das explorações agrícolas da freguesia, vinhas e olivais, que davam sustento e alimento a muitas famílias se perderam e que vão demorar anos até serem recuperados. Prevê-se que um olival ardido demore dez anos até que as oliveiras voltem a ser rentáveis.