Na edição de setembro de 2024 informámos, como notícia de última hora, que a Câmara Municipal de Alvaiázere tinha prescindido da exposição dos veículos de duas rodas exposta nas salas do anexo do Museu Municipal de Alvaiázere, tendo já o seu proprietário, João Cortez Pinto Seixas, nessa data retirado parte do espólio constituído por bicicletas motorizadas, que segundo informação deste, até ao momento do fecho deste jornal, ainda não conseguiu retirar a totalidade da exposição.
E conforme prometido nessa edição urge esclarecermos os nossos leitores e alvaiazerenses, sobre esta situação, pelo que abordámos o Presidente da Câmara Municipal de Alvaiázere, João Paulo Guerreiro, que prontamente, respondeu às questões formuladas e agradeceu, “a oportunidade de explicar aos leitores de forma transparente as opções tomadas”.
“O Alvaiazerense” (O Alv.) – Tendo conhecimento da existência de um projeto para uma apresentação mais apelativa da exposição, qual o fundamento ou fundamentos de terem prescindido desta?
João Guerreiro (JG) –O projeto indicado e denominado “Espaço Museológico – Coleção Dr. João Seixas”, elaborado pelo anterior executivo, implicava a reconstrução e ampliação de um edifício no centro da vila num investimento estimado em 2021 de 625.000€, com expectativa de financiamento comunitário, financiamento esse, que apesar de todos os esforços desenvolvidos pelo anterior e atual executivos não foi possível, pois desde 2017 (data da celebração do protocolo com o colecionador) não foram disponibilizadas linhas de financiamento para este tipo de projeto. Deve também ser tido em conta que o espólio em causa é propriedade do colecionador particular, que apenas o cederia temporariamente e não a título definitivo ao Município de Alvaiázere para a criação desse espaço. Por outro lado, ao longo de todos estes anos, apesar da privilegiada divulgação por todos os meios do município (Site, redes sociais, jornais, newsletter municipal, etc…) nunca a coleção conseguiu motivar um significativo número de visitantes, quer alvaiazerenses, quer de outros municípios. Não desmerecendo o valor da coleção, o certo é que a mesma não se mostrou mobilizadora, nem a sua permanência se mostrou justificativa num território como o de Alvaiázere, com pouca tradição no apreço dos veículos expostos.
O Alv. – Considerando que a exposição é diferenciadora e única no país, não terá o concelho ficado mais pobre culturalmente?
JG –Alvaiázere é um Concelho muito rico a vários níveis e a Cultura não é exceção, o Município de tudo tem feito para potenciar e alavancar essa nossa grande riqueza, tendo inclusive sido reconhecido em 2024 com o prémio de Excelência Autárquica na Área da Cultura. Do nosso ponto de vista a resposta à pergunta colocada é claramente que não, não ficamos mais pobres culturalmente, até porque esta não é uma exposição única nem diferenciadora no país pois já existe o Museu Duas Rodas em Sangalhos, onde aliás o mesmo colecionador já tinha algumas das suas peças em exposição. Queremos ainda salientar que inúmeras atividades educativas-culturais que eram dinamizadas naquele espaço para a comunidade local (e não só), deixaram de o ser pelo facto de o local estar ocupado com a referida exposição.
O Alv. – Qual a estratégia do município para ocupar o espaço deixado vago, após a retirada total do espólio da exposição?
JG –Como é do conhecimento público o nosso foco são as pessoas. Nesse sentido, é nossa intenção criar um espaço dinâmico, de partilha de experiências e de saberes, que envolva cada vez mais a comunidade na preservação e na valorização da identidade cultural e da memória coletiva do território. Falamos, como era nosso compromisso eleitoral, da “Casa das artes e dos saberes”, um espaço diferenciador, onde serão desenvolvidas várias oficinas que promovam a formação, a educação patrimonial não formal, a preservação cultural, a criatividade e a integração comunitária. Estas iniciativas decorrerão, na sua maioria, em núcleos expositivos permitindo aos interessados a utilização de utensílios com anos de história. Isto significa uma abordagem mais moderna do espaço expositivo e uma valorização das tradições e valores realmente identitários de Alvaiázere. É importante referir que o Museu Municipal está neste momento a sofrer obras de remodelação, financiadas pela candidatura “Sicó Outdoor Center”, e de futuro prevemos investir numa alteração substancial das exposições permanentes. O executivo pretende apostar num espaço que se destaque por uma abordagem inovadora, viabilizando experiências mais interativas, que captem novos públicos e que fidelizem os visitantes existentes criando aí sim um conceito único e diferenciador, mas apostando naquelas que são as nossas mais-valias e características próprias enquanto território e comunidade.
O Alv. – Obrigada pela colaboração e esclarecimentos.

