PROPRIEDADE: CASA DO CONCELHO DE ALVAIÁZERE

DIRECTOR: MARIA TEODORA FREIRE GONÇALVES CARDO

DIRECTOR-ADJUNTO: CARLOS FREIRE RIBEIRO

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Escola a tempo inteiro ou família a tempo inteiro?

O programa “ Escola a tempo inteiro” foi lançado como uma solução para as pessoas que trabalham e que, consequentemente, não podem estar com os filhos. Infelizmente, em muitos casos, não foi implementado como uma estratégia que, ao incrementar aprendizagens significativas, responda aos interesses efetivos das crianças.

A longa permanência na escola, em atividades pedagogicamente pouco ricas, parece, segundo alguns estudos, não promover um desenvolvimento equilibrado. Ou seja, servem apenas para apoiar quem trabalha, enquanto em muitos países europeus servem para reforçar aprendizagens, embora se questione se o tempo de permanência na escola é ou não é determinante na melhoria dessas aprendizagens.

Segundo o estudo da OCDE, «Education at a Glance 2019», as crianças do 1.º Ciclo do Ensino Básico passam mais de mil horas em aulas comparando com a média europeia. Questiona também se este tempo a mais nas escolas portuguesas esteja a ser usado «de forma tão eficiente como noutros países».

As crianças veem-se inseridas numa escola que se adapta aos horários longos e, por vezes, desregulados dos pais, que também não têm tempo para viver com qualidade.

Assim, torna-se importante discutir um novo modelo de organização social e de gestão do tempo de trabalho de forma a permitir a conciliação da atividade profissional com a vida familiar.

Aparentemente, a proposta da semana de trabalho de 4 dias é boa para os pais, pois ao permitir que se reforce o tempo passado em família, favorece a possibilidade deles cumprirem a sua ação perante os filhos, sem comprometerem a sua realização profissional.

O grande problema é que não há redução de horas de trabalho, há apenas distribuição dessas horas por menos dias e, consequentemente, ao trabalhar mais horas por dia, sairão mais tarde. Logo, ao chegar mais cansados a casa, estarão menos disponíveis para afetos de qualidade e atividades que evitem o sedentarismo e promovam o contacto com a natureza.

Por outro lado, tal como está delineada, a semana de 4 dias trará uma outra consequência. As escolas, ditas “a tempo inteiro”, terão, passe o exagero, de começar a servir jantar às crianças.

A solução? A solução seria trabalhar menos horas o que é, manifestamente, complicado. Os empregadores não querem abdicar da parcela de produtividade, o estado não quer subsidiar essa parcela e os empregados também não querem/ podem abdicar de uma fatia significativa do seu ordenado, pois os salários já são manifestamente baixos.

Bom, se os pais precisam de ter mais tempo para os filhos e se as crianças precisam, por motivos de equilíbrio físico e mental, de mais tempo e espaço para brincar, socializar em família e estar em contacto com a natureza, temos de ter a audácia de procurar soluções a nível de organização social.

A flexibilidade laboral, tal como ocorre em muitos países, pode ser uma das apostas. Pode-se começar a trabalhar mais cedo e sair mais cedo ou, por exemplo, fazer mais horas noutro dia.

E, se o objetivo é ter mais tempo em família, que tal os pais com crianças em idade escolar terem um bónus/subsídio que lhes permita sair uma hora ou duas mais cedo do trabalho? E se os avós pudessem reformar-se mais cedo para acompanharem os netos?

Dir-me-ão que é tudo muito bonito mas custa dinheiro. Concordo. Também é comprovadamente verdade que as crianças têm necessidade de brincar e socializar livremente e que, ao serem privadas destas vivências tão fundamentais na construção do seu Eu, terão uma infância menos feliz.

Creio que não queremos conviver, no futuro, com adultos imprevisíveis/ instáveis quer socialmente quer emocionalmente. È que isso pode sair muito mais caro!