Está decidido. (Ou talvez não). O futuro aeroporto da região de Lisboa vai ser construído no campo de tiro de Alcochete e vai chamar-se aeroporto Luís de Camões. Aparentemente, será o culminar de um processo que se arrasta há mais de 50 anos. As minhas reticências advêm do facto do mesmo já ter sido anunciado mais do que uma vez.
Acredito que a sua construção, para substituir o de Lisboa, seja efetuada na melhor localização, mas parece-me fazer falta um aeroporto entre Lisboa e o Porto.
Quanto à escolha do nome não há nada a contrapor. Luís Vaz de Camões é considerado uma das maiores figuras da literatura em língua portuguesa e um dos grandes poetas do Ocidente. Assim, ao celebrar desta forma o quinto centenário do seu nascimento, é também uma oportunidade única para pensar o legado do poeta, tanto na literatura como na identidade portuguesa.
A divulgação da sua (outra) poesia, tão esquecida, é uma singela homenagem. Assim, deixo o seu poema “Ao desconcerto do mundo”, que escrito há quase 500 anos se mantém muito atual.
Ao desconcerto do mundo
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.